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14.01.2020

Baleia Azul e as cores da vida.

Quantos jovens ainda vão morrer para que o tema do suicídio seja levado mais a sério? É sabido que há um aumento do número de suicídios quando a imprensa divulga um caso, pois de alguma forma o fato vira modelo e aumenta a coragem dos jovens que estão na fase do planejamento. Entretanto falar sobre o tema com seriedade e propor soluções contribui para que os pais ou os próprios jovens reflitam sobre a vida e não levem à frente suas intenções. É esse nosso desejo.
Recentemente a imprensa divulgou casos de tentativas de suicídio relacionados ao jogo Baleia Azul, presente na internet, que propõe 50 tarefas a serem cumpridas uma por dia e comprovadas a uma pessoa “julgadora” que avalia a veracidade. São tarefas como fazer cortes no braço ou na perna, pendurar-se em lugares perigosos, tomar medicamentos que os façam ficar doentes, passar um dia inteiro assistindo a filmes de terror ou violentos e assim por diante. Tudo deve ser comprovado por fotos ou vídeos enviados a esse juiz. A 50ª tarefa propõe o suicídio. Não importa se a coisa toda é assim mesmo ou se é brincadeira de mau gosto, o problema é que se houvesse apenas um caso de auto agressão, já seria condenável e não deveríamos minimizar os efeitos de tal “brincadeira”.
Em tudo isso há dois pontos a considerar. O primeiro deles é que não devemos permitir a banalização do sofrimento do adolescente como vem ocorrendo nas redes sociais. Correntes como “50 passos para arrumar seu quarto” ou qualquer outra brincadeira do mesmo nível despreza a dor real de muitos jovens. A adolescência é uma fase difícil em que os meninos e as meninas passam por transformações no corpo, na vida social, emocional, familiar e cognitiva. Não é nada fácil. A preocupação em estar adequado, em pertencer a um grupo ou ser aceito pelos pares é constante e nem sempre compreendida. Nós adultos já passamos por essas preocupações e hoje olhamos para trás e aceitamos o fato de que nos fizeram crescer ou ser o que somos, no entanto para quem está na fase a percepção é outra, é de dor. Assim, o melhor que podemos fazer é compreender e acolher, jamais repreender, desprezar ou tentar diminuir a dor por meio de brincadeiras ou gozações.
O segundo ponto, não menos importante, é o julgamento que a sociedade faz a respeito da educação que os pais dão a esses jovens. É fácil dizer “esse menino foi mal criado”, “essa menina não recebeu princípios”, “os pais desse jovem estavam onde?” e assim por diante. Os pais erram sim, mas a maior parte deles com o objetivo de acertar. Por amor permitem que usem a internet, que os filhos estejam presentes nas redes sociais ou passem horas no videogame. Como adequar os tempos? Cada realidade é uma, cada filho tem uma personalidade diferente e reage de forma única frente aos limites impostos. Claro que há princípios da educação que podem ajudar, mas eles não são os únicos que influenciam a vida do jovem. Portanto, jamais podemos culpar os pais. Vamos orientá-los, não julgá-los. Acolhê-los, não incriminá-los.
E, em vez de lutarmos contra todas essas forças destrutivas de jogos mal intencionados ou de “amigos” que incentivam a morte, que tal trabalharmos todos para a valorização da vida? Isso se faz com programas antibullying que ajudam a perceber a importância de participar de projetos de apoio a orfanatos, a asilos, a ações sociais significativas. Jovens que se envolvem com práticas sociais construtivas simples, como arrecadar agasalhos, fraldas ou leite em pó para os necessitados veem o mundo com outros olhos, pois percebem que seu próprio sofrimento diminui na presença da dor do outro.
Quando o mundo deixa de ser a exclusividade da rede social, do próprio quarto, dos aparelhos tecnológicos e passa a ser ampliado pela construção de um bem maior, a vida começa a valer a pena e a ter mil cores, não só a azul.
Marcos Meier, educador.

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